terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Metal contra as nuvens - Legião Urbana




Um post musical. Uma homenagem a uma banda que aprecio bastante. Uma letra muito poética e filosófica, com ideologia, o que falta aos nossos jovens de hoje em dia. Um brinde à Legião Urbana, imortalizada em nossos corações!




Metal Contra as Nuvens

Composição: Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá

Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho

E temo o que agora se desfaz.
Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais.
Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.
Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição,
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.
Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra tem a lua, tem estrelas
E sempre terá.
II
Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa.
Quase acreditei, quase acreditei
E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.
Olha o sopro do dragão...
III
É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez, o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende.
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos.
Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.
Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então.
IV
- Tudo passa, tudo passará...
E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Clube de Leitura





Nesse mês de dezembro de 2009, eu fiquei incumbido de presidir o Clube de Leitura Pessoa de Saramago Assis, no qual se discutiu o livro Leite Derramado, de Chico Buarque. Então foi preciso, antes de começar o debate de idéias, situar o autor no tempo e comentar sucintamente sobre a sua obra artística num geral, ou seja, falar de Chico Buarque como músico e compositor e, em seguida, como romancista. Ao adentrar em Leite Derramado e dividir opiniões com os participantes, percebi que o livro acabou proporcionando mais reflexões do que o esperado. Estou muito feliz com o crescimento do nosso Clube e com a participação de todos. Conheça o Clube de Leitura Pessoa de Saramago Assis e participe! Leia, dê a sua opinião! É preciso refletir e difundir a cultura.
Marco Hruschka




domingo, 20 de dezembro de 2009

Eros e Psiquê - Fernando Pessoa


Eis um de meus poemas prediletos: Eros e Psiquê, de Fernando Pessoa. O texto pode ser encontrado no livro Cancioneiro. Trata-se de uma releitura do mito grego. No vídeo, a declamação do poema por Maria Bethânia com piano ao fundo. A primeira foto é uma escultura de Antonio Canova chamada Psiquê revivida pelo beijo de Eros, a  segunda foto é uma pintura que se chama L'enlèvement de psyché, de William Bouguereau. Abaixo um link sobre o mito de Eros e Psiquê. Declamação, música, escultura, pintura e poesia, viva a junção das Artes!

Marco Hruschka



Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


O mito de Eros e Psiquê - Clique e saiba mais!
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Amores perdidos


Não se acredita mais em amor à primeira vista
O medo impera como sentimento absoluto
Pessoas magoadas da vida já não apostam mais
Corações são chagas, falta de esperança, luto

Para onde quer que eu vá, dor e desilusão
Um passado que se torna presente e futuro
Aquela mágoa de outrora desenha o porvir
Está tudo bloqueado, tudo tão incerto e inseguro

Quero a in(constância) de poder amar de verdade
Sentir-me vivo, pois que só o Amor dá vida
Pois que só o Amor é a razão de viver
Senão um vazio, um nada, uma treva dolorida

Esperanças dilaceradas, assassinadas e enterradas
Auras gêmeas que se casam, unem-se em ideal
E sonham à distância o amor reprimido pela dúvida
Sentimentos aprisionados, causadores de todo mal

Amarei por todo o sempre a idéia de amar
Incondicionalmente, sem limite, sem medida
O caminho é turvo, lusco-fusco, há névoa em volta
Mas encontrarei o par perfeito ressussitando a paixão desfalecida


Marco Hruschka
terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Chico Buarque falando francês

Chico Buarque dá entrevista para a TV francesa, depois de cantar "Piano na Mangueira". Aproveito para postar aqui também o vídeo em que ele lê o começo do seu último romance "Leite Derramado", obra que se será discutida nesse mês de dezembro pelo nosso Clube de Leitura Pessoa de Saramago Assis.








Marco Hruschka
segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A arte de ser feliz




Nasce-se chorando e já se sabe que o fim não é diferente,
Mas durante o trajeto de nossas vidas, as veias pulsam
Em busca de um sentimento substancial, algo que preencha
Esse vazio que se tem e não se conhece a origem,
O nada que habita nossos corações e que força moradia,
A angústia de não saber o motivo pelo qual aqui nos encontramos.

Quando criança, prantos e sorrisos dividem o espaço e o tempo,
Mas o abraço materno nos basta, um pirulito é a própria metafísica,
Um brinquedo é a realização eterna, não há mais problemas,
As lágrimas secam e o sonho se realiza, um viva aos bens materiais!

Na adolescência, outros desejos aparecem e a curiosidade
Da descoberta surge avassaladora, mudanças hormonais
Demandam desbravar caminhos, sobretudo explorar
Os tesouros do próprio corpo, atingir os limites do impossível.

A idade avança e não se percebe a ciranda dos ponteiros,
Ainda não se sabe definir o que valeu a pena,
É-se adulto e as responsabilidades se multiplicam,
Vive-se consigo e a vida dos outros, tudo é um todo.

Compra-se, viaja-se, conhece-se, ama-se!
E o abismo continua confortavelmente assentado
Na poltrona com os pés sobre a mesa de centro do peito,
Apossado do controle remoto de nossas vidas.

O coração já acelerou várias vezes,
Já se despedaçou algumas outras
E já se reconstituiu outras tantas...
E agora, José? Onde está a felicidade?

Em que momento e em que lugar eu fui feliz?
Com quem, como, por que, por quanto tempo?
A felicidade deveria ser e não estar,
É água, pois quando se tem, escorre-lhe pelas mãos...

É fênix e o coração palpita quando menos se espera!
A felicidade seria a plenitude do amor? Defina o amor!
Bipolar! ... se os maiores mestres já poetizaram sobre a sua dualidade...
Não! Algo mais profundo: ainda não responderam à pergunta

Depois que se é feliz o que acontece?...?...?...
Talvez o único caminho seja encher o coração de esperança,
Néctar-ilusório capaz de preencher o âmago da nossa espécie,
Ser que é dado à luz já natimorto e que se despede moribundo-vivo...

Em homenagem aos sentimentos de minha amiga-irmã, Ana Maria


Marco Hruschka
sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ao fechar dos olhos

Chegará o dia em que teu coração me pedirá de volta
E esse dia será azul-transparente como a água do riacho
Em recôndito, e é essa a cor do âmago do amor
As minhas lágrimas caem no mesmo tom, matiz igual
Já não se distingue, tudo é fundido e ao mesmo tempo diluído
Esse amor já me consome, já o sou por completo
Olho-me no espelho e vejo a sua personificação
Meus poros já não suportam mais, exalam morosamente
Amorosos vapores, apaixonados, delirantes e oníricos
Que se dispersam, conhecem o mundo, e depois se unem
Precipitando-se em tua direção, e quando te vêem,
Iniciam o ritual, uma coreografia artística ao teu redor,
Partículas de amor flutuando e circulando, levíssimas
Enquanto eu mantenho os olhos fechados e imagino
O teu cheiro, o teu corpo, a tua voz, a tua presença
E agora sou o passado, sou o ontem, o outrora
Tu e eu celebrando um ao outro, deveras amando
Tu a coreografia, eu a arte, nós o bailado e a magia,
O tempo já não existe, já não existe memória, o amanhã não há
O que há e sempre haverá é o amor entre nós dois,
Eterno habitante de nossos utópicos corações

Ao meu amor, seja ele quem for

Marco Hruschka

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Caim


Terminada a leitura do mais novo romance de José Saramago, Caim de seu nome, percebemos um narrador no ápice da ironia e da aversão para com a imagem de deus (gravado com letra minúscula, como no romance). Caim é o protagonista e o novo herói saramaguiano. O filho primogênito de adão e eva mostra-se indignado com as atitudes divinas para com os seres humanos e, ao viajar no tempo e visitar os episódios de sodoma e gomorra, da torre de babel, de jericó e do dilúvio, por exemplo, entra em contato com a tirania de deus. Não se pode confundir literatura com crença, pois, claro está, a intenção aqui é difundir o conhecimento, o texto literário, a ficção, a reflexão filosófica. Leitura recomendada!


Marco Hruschka



"A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele" Saramago, 2009, p.88



"O sangue corria entre as tendas como uma inundação que brotasse do interior da própria terra, como se ela própria estivesse a sangrar, os corpos degolados, esventrados, rachados de meio a meio, jaziam por toda a parte, os gritos das mulheres e das crianças eram tais que deviam chegar ao cimo do monte sinai onde o senhor se estaria regozijando com a sua vingança." Saramago, 2009, p. 101


"Eu não fiz mais que matar um irmão e o senhor castigou-me, quero ver agora quem vai castigar o senhor por estas mortes, pensou caim, e logo continuou, Lúcifer sabia bem o que fazia quando se rebelou contra deus, há quem diga que o fez por inveja e não é certo, o que ele conhecia era a maligna natureza do sujeito" [...] "Havia uma nuvem escura no alto do monte sinai, ali estava o senhor" Saramago, 2009, p. 101



"O problema do unicórnio é que não se lhe conhece fêmea, portanto não há maneira de que possa reproduzir-se pelas vias normais da fecundação e da gestação, ainda que, pensando melhor, talvez não o necessite, afinal, a continuidade biológica não é tudo, já basta que a mente humana crie e recrie aquilo em que obscuramente acredita." Saramago, 2009, p.156


"Dentro da arca, a família noé dava graças a deus e, para festejar o êxito da operação e exprimir o seu reconhecimento, sacrificou um cordeiro ao senhor, a quem a oferenda, como é natural, conhecidos os antecedentes, deliciou." Saramago, 2009, p. 163


PS: Foto Caim conduzindo Abel à morte, quadro de James Tissot.


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Máscara (a)temporal


Quero viver a clandestinidade do instante
O momento estrangeiro
A androgeneidade do tempo
O que resta de mim e o seu montante


Agarro-me ao último tic-tac do ponteiro
E já padeço, não há réplica, não há nada
Vã esperança dos desejos vis
Agulha da morte, traiçoeira, passo ligeiro


O vácuo de onde venho já se esvai
Intermitências constantes de inconstantes sentimentos
Enquanto a areia escorre a esperança cresce
Pai gentil de toda sorte, ó tempo, agonia que não sai


Ciclo completo e nada muda
Mas mudam os segundos, a realidade não
Tic-tac, tic-morte, morte-tac, morte-morte
No verso derradeiro a farsa é moribunda


Marco Hruschka
sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esperança oblíqua






Uns chamam de fé, outros de sonho, ou de desejo
A minha tem cheiro de verde, olhos de eterna ternura
Exalo de cada poro a vera vontade, alada brandura
Ao mirá-la, ela me domina, vento, brisa, frescura e ensejo

Quero niná-la em meus braços, enchê-la de mimo
Acariciar seu sorriso com meus lábios apaixonados
Tocar-lhe a pele e sentir eriçar a alma, cais de embargos
Pois sou a maré alta devorando tudo, até que toque o sino

Madrugada de luar esfumaçado, branco, beijo de bruma
Ela aparece flutuando sobre as águas e iluminada de esplendor
Uma rosa imaculada no cabelo, um vestido todo alvor
Chorarei e sorrirei num misto de sentimentos até que ela suma

Então paro e as chagas reaparecem, coração agora místico
Sou a areia encharcada que ficou na despedida do mar
Pesada, dura, e que depois secará e fragmentar-se-á pelo ar
Dissimulo situações para aliviar a dor, a simbólica e a do físico

Preciso do oráculo para poder me livrar da angústia de não saber
Mas ele habita o topo da montanha, posição privilegiada dos videntes
Então serei o condor que alcançará as verdades onipotentes
E se o tema é o amor, os deuses ecoarão a eterna dúvida do nosso ser



Marco Hruschka
segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Mulher de aroma e céu


Que o véu transparente e luminoso do teu rosto
Continue a musicalizar o teu verso sensuoso
Pois tua aura alva repleta de bordados
Transparece a verdade em teus olhos esmeraldados


Sonhe, flutue, galgue, emane poesia
Que teu sorriso é samba-fantasia
És sublime no teu júbilo felino
A teu louvor dedicamos este hino.


A Raquel Fregadolli, por Marco Hruschka e Luigi Ricciardi


Trata-se de um poema inusitado, escrito num guardanapo de papel num barzinho, enquanto comemorávamos a boa apresentação de nossos trabalhos no CELLIP, em Cascavel. Uma amiga especial estava em uma mesa próxima, então resolvemos homenageá-la da melhor maneira que podíamos, com a nossa arte. Um viva aos poetas de bar! ;)
sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Que assim seja



Espero que você possa voltar a sentir dentro do teu coração um amor verdadeiro, sem mágoa, sem medo, sem dúvida, sem erros. Aquele amor que dizia que sentia por mim, que eu acreditava. Aquele amor que nos faz esquecer que somos medíocres, este que sinto agora, mas quando estou contigo. Aquele amor que nos faz sorrir ao lado da pessoa amada, mesmo quando tudo está errado, só a companhia que não. Aquele amor, sem descrições, sem palavras possíveis... o nosso amor!


Marco Hruschka

Angústia


Insisto enquanto houver amor...
E quando ele me tortura insisto
Se tu és a minha glória e meu louvor
Sou teu céu e teu inferno, exato misto

Marco Hruschka
terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sentido às avessas


Sentimentos transfigurados
Transtornos oblíquos
Amores salgados
Verbos ventríloquos

Paixões absurdas
E absurdos temores
Amiúde, miúdas e mudas
Típicos pavores

Chuva de espasmos
Negro-coração-vil
Sou todo orgasmos
De seda, de aroma, febril

Sentido em luto
Pois a morte jaz-em-mim
E de mim um dissoluto
Que comece o festim

O banquete é mel escarlate
O de beber e o de comer
Um ótimo abate
Brindemos sem saber!

Chegaram os cretinos
E os seus lugares ocuparam
Já cantaram o mal-hino
E aos deuses já louvaram

Dissertarão fogo-fátuo de asneira
A quem estão querendo enganar?
De vós pior acúmulo de besteira
Dê-me a corda, pois o melhor é se matar


PS: Foto "A última Ceia", Leonardo Da Vinci
sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Epitáfio Lírico


Suicidou-se dentro de mim
Arrancou o que havia de mais belo
Pra retirar a seta chamei o Querubim
Que se foi em lágrimas, quebrou-se o elo

Havia muito amor, muita esperança
Vontade de tornar tudo perfeito
Tudo era perfeito, tudo era nuança
Mas minhas promessas perderam o efeito

Em meu coração já não podes habitar
Pois tu me negas, foges, te escondes
Então vá e sigas teu orgulho insalutar
E busque amor mais puro em outras fontes

Se achares, ganharás a vida eterna
Se não, lamentarás por todo o sempre
Pois estarei na noite, na boemia, na taberna
Ou quem sabe no coração de uma donzela


Marco Hruschka
quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Caim, de José Saramago

Eis que o escritor português José Saramago lança seu novo livro, Caim. Há muito esperava um livro dele seguindo a temática d'O evangelho Segundo Jesus Cristo, obra na qual se baseia a minha monografia. Estou ansioso para lê-lo, pretendo utilizá-lo como dissertação de mestrado, espero que valha a pena. Segue abaixo, trecho do livro:


Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva. Como uma coisa, em princípio, não deveria ir sem a outra, é provável que um outro objectivo do violento empurrão dado pelo senhor às mudas línguas dos seus rebentos fosse pô-las em contacto com os mais profundos interiores do ser corporal, as chamadas incomodidades do ser, para que, no porvir, já com algum conhecimento de causa, pudessem falar da sua escura e labiríntica confusão a cuja janela, a boca, já começavam elas a assomar. Tudo pode ser. Evidentemente, por um escrúpulo de bom artífice que só lhe ficava bem, além de compensar com a devida humildade a anterior negligência, o senhor quis comprovar que o seu erro havia sido corrigido, e assim perguntou a adão, Tu, como te chamas, e o homem respondeu, Sou adão, teu primogénito, senhor. Depois, o criador virou-se para a mulher, E tu, como te chamas tu, Sou eva, senhor, a primeira dama, respondeu ela desnecessariamente, uma vez que não havia outra. Deu-se o senhor por satisfeito, despediu-se com um paternal Até logo, e foi à sua vida. Então, pela primeira vez, adão disse para eva, Vamos para a cama. 


Set, o filho terceiro da família, só virá ao mundo cento e trinta anos depois, não porque a gravidez materna precisasse de tanto tempo para rematar a fabricação de um novo descendente, mas porque as gónadas do pai e da mãe, os testículos e o útero respectivamente, haviam tardado mais de um século a amadurecer e a desenvolver suficiente potência generativa. Há que dizer aos apressados que o fiat foi uma vez e nunca mais, que um homem e uma mulher não são máquinas de encher chouriços, as hormonas são coisa muito complicada, não se produzem assim do pé para a mão, não se encontram nas farmácias nem nos supermercados, há que dar tempo ao tempo. Antes de set tinham vindo ao mundo, com escassa diferença de tempo entre eles, primeiro caim e depois abel. O que não pode ser deixado sem imediata referência é o profundo aborrecimento que foram tantos anos sem vizinhos, sem distracções, sem uma criança gatinhando entre a cozinha e o salão, sem outras visitas que as do senhor, e mesmo essas pouquíssimas e breves, espaçadas por longos períodos de ausência, dez, quinze, vinte, cinquenta anos, imaginamos que pouco haverá faltado para que os solitários ocupantes do paraíso terrestre se vissem a si mesmos como uns pobres órfãos abandonados na floresta do universo, ainda que não tivessem sido capazes de explicar o que fosse isso de órfãos e abandonos. É verdade que dia sim, dia não, e este não com altíssima frequência também sim, adão dizia a eva, Vamos para a cama, mas a rotina conjugal, agravada, no caso destes dois, pela nula variedade nas posturas por falta de experiência, já então se demonstrou tão destrutiva como uma invasão de carunchos a roer a trave da casa. Por fora, salvo alguns pozinhos que vão escorrendo aqui e ali de minúsculos orifícios, o atentado mal se percebe, mas lá por dentro a procissão é outra, não tardará muito que venha por aí abaixo o que tão firme havia parecido. Em situações como esta, há quem defenda que o nascimento de um filho pode ter efeitos reanimadores, senão da libido, que é obra de químicas muito mais complexas que aprender a mudar uma fralda, ao menos dos sentimentos, o que, reconheça-se, já não é pequeno ganho. Quanto ao senhor e às suas esporádicas visitas, a primeira foi para ver se adão e eva haviam tido problemas com a instalação doméstica, a segunda para saber se tinham beneficiado alguma coisa da experiência da vida campestre e a terceira para avisar que tão cedo não esperava voltar, pois tinha de fazer a ronda pelos outros paraísos existentes no espaço celeste.




Marco Hruschka
quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Prece


Ontem, antes de dormir, senti vontade de escrever isso. Escrevi no celular, deitado no escuro. Mas não quis fazer um poema, e sim registrar o que estava sentindo. Poucas palavras. São versos esparsos, talvez sem poeticidade. Mas são o puro sentimento que me habitava naquela hora. Chamei de "Prece".

Dormirei abraçado ao teu cheiro
Sonhando com a tua pele
E rezando o teu amor de volta


És o anjo de minha vida
Vivo o amor desconexo
Aposto na minha verdade sentimental


Quero-te aqui
Toda e minha
Te amo
sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Arnaldo Jabor: a realidade nua e crua!



- Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca.
Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida;
Pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza;
Aceitar que ONG's de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade.
Não protestar cada vez que o governo compra colchões para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária.
É coisa de gente otária. 
- Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão.
Fazer piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada.
Depois de um massacre que durou quatro dias  em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai.
Brasileiro tem um sério problema.
Quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo.
- Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira.
Brasileiro é vagabundo por excelência.
O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país, surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo.
O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês, para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe lá no fundo que se estivesse no lugar dele faria o mesmo.
Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.
- Brasileiro é um povo honesto. Mentira.
Já foi; hoje é uma qualidade  em baixa.
Se  você oferecer 50 Euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso.
Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas.
O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.
- 90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira.
Já foi.
Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e mulatos retornando da Guerra do Paraguai ali se instalaram.
Naquela época quem morava lá era gente honesta, que não tinha outra alternativa e não concordava com o crime.
Hoje a realidade é diferente.
Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como 'aviãozinho' do tráfico para ganhar uma grana legal.
Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas.
Além disso, cooperariam com a polícia na identificação de criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas favelas.
- O Brasil é um pais democrático. Mentira.
Num país democrático a vontade da maioria é Lei.
A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente.
Num país onde todos têm direitos mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia.
Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita.
Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores).
Todos sustentados pelo povo que paga tributos que têm como único fim, o pagamento dos privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar.
Democracia isso? Pense !
O famoso jeitinho brasileiro.
Na minha opinião, um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira.
Brasileiro se acha malandro, muito esperto.
Faz um 'gato' puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar.
No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais, caramba, silenciosamente ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto... malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí?
Afinal somos penta campeões do mundo né???
Grande coisa...
O Brasil é o país do futuro. Caramba , meu avô dizia isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar em como seria a indignação e revolta dos meus avôs se ainda estivessem vivos.
Dessa vergonha eles se safaram...
Brasil, o país do futuro !?
Hoje o futuro chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.
Deus é brasileiro.
Puxa, essa eu não vou nem comentar...
O que me deixa mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.
Para finalizar tiro minha conclusão:
 brasileiro merece! Como diz o ditado popular, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar. Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse e-mail, meus sentimentos amigo, continue fazendo sua parte, e que um dia pessoas de bem assumam o controle do país novamente.
Aí sim, teremos todas as chances de ser a maior potência do planeta.
Afinal aqui não tem terremoto, tsunami nem furacão.
Temos petróleo, álcool, bio-diesel, e sem dúvida nenhuma o mais importante: Água doce!
Só falta boa vontade, será que é tão difícil assim?
domingo, 4 de outubro de 2009

Ampulheta-em-gula




Eis o monstro que vem de lá pra cá todo faminto, cheio de si mesmo
Cheio de nós, invisível, irredutível, infalível, repleto de rápida ira
Ponteiros alegóricos, números carnívoros, dum silêncio mortal
O tempo transfigura-se o tempo todo,  e o futuro já é agora
E agora?  O agora esvai-se! O contrário do eco que resta
Enquanto estás, és engolido sutilmente, não há chaga
Aparente, mas os sinais são inegáveis, o espelho é
Fiel e não mente: és tu, devorado, não mais flor
Desabrochada, mas o acúmulo experimentado
E agora inutilizado, disfarce de ser humano
Cobaia intrínseca e desavisada, pois saiba
Que o fim se aproxima e de si não passa
A morte, estação derradeira; não há
Nada depois dela e da madeira, eis
A morada dos mortais, criaturas
Já moribundas no nascimento
Dizem que Deus é o tempo
Tirano do falso - arbítrio
A areia escorre ligeira
O sino toca alto e só
Já não posso mais
O que temos?
Segundos
Nada

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Marco Hruschka

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Maringá, Paraná, Brazil
Marco Hruschka é natural de Ivaiporã-PR, nascido em 26 de agosto de 1986. Morou toda a sua vida no norte do Paraná: passou a infância em Londrina e desde os 13 anos mora em Maringá. Sempre se interessou em escrever redações na época de colégio, mas descobriu que poderia ser escritor apenas com 21 anos. Influenciado por professores na faculdade – cursou Letras na Universidade Estadual de Maringá – começou escrevendo sonetos decassílabos heroicos, depois versos livres, contos, pensamentos e atualmente dedica-se a um novo projeto: contos eróticos. Seu primeiro poema publicado em livro (Antologia de poetas brasileiros contemporâneos – vol. 49) foi em 2008 e se chama “Carma”. De lá para cá já, entre poemas e contos, já publicou mais de 50, não apenas pela CBJE, mas também em outras antologias. Em 2010 publicou seu primeiro livro solo: “Tentação” (poemas – Editora Scortecci). Em 2014, publicou “No que você está pensando?” (Multifoco Editora), livro de pensamentos e reflexões escrito primordialmente no facebook. É professor de língua francesa e pesquisador literário.

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No que você está pensando?
"A vida é um compromisso inadiável" M. H.
"A cumplicidade é um roçar de pés sob os lençóis da paixão." M.H.

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