segunda-feira, 29 de junho de 2009

Anjo de Deus

Marco Hruschka



De um sorriso angelical,

Mas não de um anjo de um céu de um deus que não existe,
Mas de um anjo de meus sonhos,
E por isso mesmo é lindo,
O anjo é lindo, ela é linda, ela é o anjo,
E por falar em Deus, ó Deusa,
Vem que eu serei o teu, o que deveras existe,
E serás inocentemente feliz como uma criança a comer chocolate,
Tem razão o Poeta português, não há nada de mais verdadeiro do que isso,
Apenas esse poema, escrito com meu próprio coração,
Às vezes metido a poeta, e, quando apaixonado, artífice das palavras amorosas.
Pela inspiração que me toma, que é tu, emano poesia dos poros
E escrevo aqui uma carta de alforria, liberto nesse instante meu sentimento
Para que ele possa flutuar, leve como o teu olhar demanda,
Em direção aos teus lábios e tocá-los com a ternura que o inunda
Selar fisicamente o que espiritualmente já me toma
Sermos, por um instante que seja, a união da poesia e da paixão
Do perfeito e do sublime, da magia e do maravilhoso
Maravilhosa é a magia do teu sorriso, o brilho dos teus olhos
Aceita provar do beijo do poeta
E sentirás o coração bater mais forte
Como o cupido a lhe atingir a seta
Amar-te-ei por toda a sorte
segunda-feira, 15 de junho de 2009

Marias


Marco Hruschka



Seu nome é Maria. Mas poderia ser Joana, Cidinha, Daiana ou Raimunda. É interessante quando Saramago diz que conhecemos o nome que nos deram e não o que deveras temos. Você sabe o teu nome, caro leitor?
Maria é uma moça bonita, jovem, atraente, independente. Cuida de seu corpo, pois precisa dele para se realizar. Tem estatura mediana, é morena, mas gosta de usar máscaras. As pessoas a desejam, querem tocá-la, talvez nada mais. Mas ela sabe disso.
Hoje é sábado, por isso sairá. Irá a um baile, haverá "show" de rodeio, música sertaneja, não a de raiz, que defende a tradição do sertão e a cultura do povo mais simples, porém não menos inteligente. Trata-se de um novo estilo, chamado sertanejo universitário. Ver-se-á fumaça de cigarro, latas de cerveja no chão atrapalhando o movimento rústico daqueles seres, chamam de dança. Todo mundo sorrindo sem motivos concretos e outros animais sendo maltratados, a diferença básica está no chapéu, que os de cima usam. Ontem ela foi ao salão de beleza. Pintou os cabelos, fez alisamento, pois se sente mais segura assim, também fez depilação pubiana, pois tem a pretensão de transar nesse fim de semana e, claro está, precisa encantar o parceiro que ainda conhecerá.
Maria passou a semana toda pensando em como se vestiria no dia do baile, qual perfume usaria, em qual carro desfilaria pela cidade antes e depois da festa. Ela gosta das pick-ups, são grandes e espaçosas, faz com que ela se sinta mais importante, mais bem vista. Entretanto, basta-lhe uma saveiro semi-nova, o que ela quer é uma companhia motorizada.
Para chegar ao local do sacrilégio, ela convida como choffeur um amigo apaixonado, é óbvio que ele aceita. O iludido abre-lhe a porta do automóvel para que ela entre, entrega-lhe flores, ela finge que se emociona, elogia a roupa cafona do coitado e vão ouvindo acordes alienantes durante o trajeto. Quando chegam, as notas são as mesmas. O que muda é a companhia, pois ela o abandona na primeira oportunidade. Depois, alegará que se perdeu quando foi ao banheiro. Realmente se perdeu, mas foi nos braços de um bonitão de esporas.
Todavia, esse cowboy não serve para ela, pois não lhe daria o valor que ela julga merecer. Nisso o ser humano é como Deus, quer o veredicto . A nossa estrela vai para a pista e se movimenta freneticamente. De onde estamos, vê-se em uma mão um cigarro aceso, em outra, uma lata de cerveja emprestada de alguém. Sua cabeça está em outro mundo, é como uma fuga da realidade. Mas o que Maria não sabe e talvez nunca venha a saber é que foge exatamente para a verdade deplorável de sua existência.
Há um bobo da corte que comanda o festejo, ele faz graças na intenção de animar o pessoal. Mas nesse reino, devido à algazarra, ele utiliza um microfone para se comunicar com o resto, que aplaude, assobia, grita e sorri das rimas mal feitas pela figura emblemática.
Maria ainda não sabe, mas vomitará daqui a alguns instantes. O álcool já faz o devido efeito e seu estômago começa a maltratá-la. Ela disfarça, vai ao banheiro e faz o serviço. Lava-se. Aguarda alguns instantes até se recuperar um pouco. Dentro do possível, retoca o batom e volta para a multidão a mesma lady que chegara acompanhada do amigo apaixonado. Este, por sinal, encontra-se sentado num canto a olhar vagamente as coisas, desolado, bebendo sem perceber. A vida é assim, muitas vezes agimos sem dar-se conta.
A madrugada vai alta. A moça de quem falamos dançou até surgirem bolhas nos pés, bebeu a cerveja de vários colegas de noite e fumou até enjoar, pois não o faz no dia-a-dia. Já chega a hora de encontrar um bom acompanhante, aquele que vai lhe dar o derradeiro prazer e lhe dar uma carona confortável de volta. Já sabemos que esse homem não é nem o amigo apaixonado e nem o bonitão de esporas.
Ela não precisa nem procurar, os homens vêm até ela. No fim de festa costuma-se apostar todas as fichas. Nesse instante, o primeiro cidadão mais ou menos apresentável que demonstrar boas intenções usufruirá dos carinhos de Maria.
Ela olha para João, que lhe observa há alguns instantes. Ela sorri, ele se aproxima. Conversam qualquer coisa de banal e caminham em direção ao carro do indivíduo. A moça percebe que é um veículo interessante, já o fita com outros olhos, está feliz. Dançou, fumou, bebeu, divertiu-se e não gastou praticamente nada nessa noite. Quando chegar em casa esquecerá de agradecer a Deus por sua saúde, mas dormirá com o sorriso no rosto.
João é um bom rapaz. Não gosta de literatura, nem de cinema, nem de artes plásticas. Não costuma ler e nem se mantém atualizado com o mundo. Nunca ouviu falar de Vinícius de Moraes, não saberia relacionar Da Vinci a Monalisa, e acha que Freddie Mercury é só mais um cantor boiola dos anos oitenta. E ainda haverá quem diga que o narrador dessa história é que se muniu de sua pena mais preconceituosa, quando em verdade apenas delineia uma narrativa literária, e por isso mesmo artística, referente à realidade circunstante. Voltemos a João. Adora música sertaneja, a nova vertente, claro está. Veste-se com chapéu, botas e cinturão. Bebe cerveja em abundância. Sorri com facilidade. Tem bom coração. Tem um carro.
Nos arredores do circo, parece-nos zona rural, devido às vestimentas das pessoas que ali estão e pelo aspecto rústico da acústica. Porém, estamos na cidade. O casal sai ouvindo no cd player os mesmos arpejos que costumam ouvir durante a semana, iguais aos que vieram ouvindo e que ouviram durante o tempo que ali estiveram, gostam mesmo desse tipo de som.
João é um cara simples, gostou de Maria. Ele pretende levá-la embora sonhando em ganhar um beijo como recompensa e, quem sabe, sair com ela de novo.
A moça quer mais. Ela deseja saciar seus anseios de mulher. Quer sentir o prazer que lhe é de direito. Então, insinua-se para o rapaz, que fica meio constrangido, mas gosta, pois tem instintos. Ela diz, Bem que poderíamos ficar num lugar mais confortável, só eu e você, o que acha. Ele apenas sorriu e se endereçou ao motel mais próximo com o coração acelerado. Transaram. Magia para um, cotidiano para a outra. Ela dominou os gestos, a palavra, pois João é tímido. A única atitude deveras ativa do rapaz foi pagar a conta, como manda a cartilha do bom cavalheiro.
Foram embora. Ele a deixou em casa, com cara de bobo, pois não esperava tanto de sua amada. Conseguiu seu telefone, por isso irradia felicidade.
Agora, a donzela dorme relaxada em si mesma. A noite foi como programara. Sonhará com animais pulando e vozes dispersas, mas não se lembrará disso no dia seguinte, assim como também não se lembrará de João.

Conto publicado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores no livro "Novos Talentos do Conto Brasileiro", em julho de 2009.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Fantoches


Não posso mais olhar para aquela dama,
Cada vida é por si só aquela ilha inabitada que já diziam,
Se penso em um futuro ao seu lado, engano-me,
Peço-me perdão por mentir a mim mesmo,
A inocência me domina às vezes,
Almejo uma união, ser apenas um com ela,
Mas, na impossibilidade natural das coisas,
Devo me arrepender e voltar à realidade,
Doída, impiedosa, um vírus que se alastra
Pelos tecidos nos infectando mais e mais,
Preciso de uma injeção de sonho, 
Quem sabe eu possa sorrir sem medo,
Sem o carma de ter que viver o que deveras é,
Mas... será que isso que chamamos de real
Existe de verdade, será que não somos pura metafísica?
Fantoches de um ser maior que brinca de manipular-nos?
Cobaias de um experimento não perfeitamente sucedido?
Não precisaria ser dito, pois é claro que somos um robô defeituoso,
Portador de uma bateria chamada coração,
Abastecida pela energia que vem do amor,
E quando a fonte seca, essa peça se desregula, 
Desprevenida, o resto da sucata se confunde,
E, não sabendo o que fazer, como lidar sem o néctar,
Agoniza pela eternidade de seus dias, 
Nessa abominável invenção que é a vida.

Marco Hruschka

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Maringá, Paraná, Brazil
Marco Hruschka é natural de Ivaiporã-PR, nascido em 26 de agosto de 1986. Morou toda a sua vida no norte do Paraná: passou a infância em Londrina e desde os 13 anos mora em Maringá. Sempre se interessou em escrever redações na época de colégio, mas descobriu que poderia ser escritor apenas com 21 anos. Influenciado por professores na faculdade – cursou Letras na Universidade Estadual de Maringá – começou escrevendo sonetos decassílabos heroicos, depois versos livres, contos, pensamentos e atualmente dedica-se a um novo projeto: contos eróticos. Seu primeiro poema publicado em livro (Antologia de poetas brasileiros contemporâneos – vol. 49) foi em 2008 e se chama “Carma”. De lá para cá já, entre poemas e contos, já publicou mais de 50, não apenas pela CBJE, mas também em outras antologias. Em 2010 publicou seu primeiro livro solo: “Tentação” (poemas – Editora Scortecci). Em 2014, publicou “No que você está pensando?” (Multifoco Editora), livro de pensamentos e reflexões escrito primordialmente no facebook. É professor de língua francesa e pesquisador literário.

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"A vida é um compromisso inadiável" M. H.
"A cumplicidade é um roçar de pés sob os lençóis da paixão." M.H.

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